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Review Sifu (PS4) – Ser um mestre é para poucos

Sifu é um game de ação desenvolvido pela Sloclap que, desde de seu anúncio, foi alvo de memes por esse nome. Ao traduzir, as coisas fazem mais sentido, tendo como significado mestre ou professor em mandarim. Ademais, é bom enunciar que a desenvolvedora já é reconhecida por trazer, na minha opinião, um dos melhores jogos de artes marciais do mercado: Absolver.

Além dos trocadilhos usados com o nome, Sifu também acabou chamando muita atenção pelo combate rápido, preciso e inspirado em Sekiro, mas também com clássicos da sétima arte como Oldboy. Não obstante, em poucos dias de lançamento, murmurinhos polêmicos alvejaram o título o descrevendo como feio, fraco e injusto. Portanto, venho declarar o porquê tudo não passa de puro conto do vigário – e eu tenho provas!

Desenvolvimento: Sloclap S.A.S

Distribuição: Sloclap S.A.S

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Ação

Classificação: 14 anos

Português: Interface e legendas 

Plataformas: PC, PS4, PS5

Duração: 7.5 horas (campanha)/17.5 horas (100%)

Batman chinês

Yang e os 4 assassinos.

De forma resumida, Sifu é uma história de vingança. Tudo o que ocorre em 5 fases distintas é motivado unicamente pelo ato de se vingar. Porém, esse enredo linear consegue se ramificar em 5 narrativas que transforma, de forma vigorosa, esse rancoroso ato em algo denso.

No prólogo, controlamos Yang, um antigo aluno de Kung Fu que está subindo um dojo à procura de seu antigo mestre. No meio do caminho outras 4 figuras são apresentadas, sendo também antigos alunos desse mesmo mentor. E, no final, Yang consegue o que queria: matar seu sifu e pegar um objeto misterioso.

A surpresa fica pelo fato de haver uma criança escondida bem ali, vendo seu pai sendo morto por um antigo amigo e aprendiz de Kung Fu. Nesse momento, podemos escolher o gênero dela, mas ela nem é nomeada, e, por isso, irei chamá-la de Yin daqui para frente. 

Assim, 8 anos se passam, Yin está com 20 anos e passou todo esse tempo investigando aqueles 4 indivíduos e Yang. Isso pode ser visto no Quadro de Detetive, em que há jornais, fotos e até chaves dos esconderijos que eles construíram. 

Em cada uma das 5 fases há itens escondidos que complementam a investigação de Yin, mas que também contam o que esses assassinos fizeram nos últimos anos. Além disso, informações encontradas em um esconderijo podem abrir caminhos secretos em fases futuras ou anteriores. Por consequência, mesmo que Yin não tenha sido treinado pela Liga dos Assassinos, ele “manja dos paranauês”, é um ótimo detetive e, por fim, é a vingança, igual ao “morcegão” de Gotham. 

Excelência marcial

Violência pura no Clube.

Sifu é um beat ‘em up 3D clássico. Fluidez e velocidade resumem perfeitamente todo o combate do game. Golpes sincronizam-se dependendo da direção que são lançados, transformando a experiência prazerosa ao acertar, e frustrante ao ser atingido. Assim como Absolver, existem variados golpes e combos que podem ser efetuados, entretanto, Sifu explora uma outra mecânica: a barra de postura. 

Semelhantemente a Sekiro, tanto os inimigos quanto Yin devem atacar e repelir golpes para desequilibrar os adversários. Desta maneira, eles ficam abertos para finalizações que podem ser feitas ao pressionar triângulo e bolinha juntos. Nesses golpes finalizadores, Sifu evidencia a raiva e habilidade de Yin, deixando até inimigos ao redor assustados. 

Porém, nem tudo são ataques fáceis de defender, pois há alguns que não podem ser repelidos e quebram a postura de Yin automaticamente. Essas investidas são demarcadas por uma cor vermelha ou laranja no membro do inimigo, então, é adicionada outra técnica: desviar. Caso o ataque venha de cima, será necessário segurar L1 e para baixo, já no caso contrário, para cima. 

Golpes poderosos não podem ser repelidos.

Yin é um morcego solitário indo para uma alcateia sanguinária, logo, ele nunca estará em vantagem numérica e por isso é normal enquadrar Sifu como injusto. Prestar atenção em tantos detalhes assim pode ser extremamente desafiador e cansativo. A impressão que passa é de que devemos ser realmente um sifu e utilizar tudo ao nosso dispor para conseguir destruir os obstáculos do caminho. Com isto posto, há ferramentas que são muito bem vindas para que Yin pareça um dublê, igual ao Jackie Chan naquele game de PS1.

A vingança é o melhor remédio

Objetos do cenário podem ser utilizados.

Primeiramente, esqueça essa baboseira filosófica de alguém que nem paga os aluguéis. Em Sifu, a vingança não só compensa, como também cura Yin em cada finalização que faz. Mas, calma lá! Violência sem foco e calma pode destruir sua postura de mestre do Kung Fu. 

Quanto melhor lutar, mais aparente ficará o seu foco. Portanto, usufruir da barra de foco pode ser uma forma fácil de abrir a guarda do inimigo e conseguir vantagens. Existem bons golpes que podem facilitar demasiadamente o combate e tirar Yin de um baita sufoco. 

O círculo de Golpes de Foco.

Por fim, e não menos importante, se movimentar pelo ambiente e utilizar de objetos como armas também são maneiras necessárias para vencer. A forma como objetos tradicionais do dia a dia como banquinhos, garrafas e canos servem como utensílios violentos, demonstram que até você pode ser um sifu – brincadeira, não tente isso em casa!

Depois de tudo, é notório que Sifu é um jogo extremamente difícil, que exige de quem joga muita paciência e reflexo. Dito isso, seria ilusório dizer que não será preciso repetir boas vezes as fases para pegar o jeito de tudo. Isso faz com que Sifu aproveite as mecânicas do Rogue-lite para ampliar não só o combate, mas também a exploração.

A idade e suas consequências

Uma exposição para os mais velhos.

De acordo com o mestre Shifu em Kung Fu Panda, a arte do Kung Fu demora anos para ser masterizada. Sifu leva isso bem ao pé da letra, mas isso não significa que você irá passar anos jogando para terminá-lo – ou será que vai?

A mecânica mais interessante de aqui é o envelhecimento de Yin sempre que ele morre. Nos trailers isso chamou muito atenção, no entanto, o grande mistério era o por quê isso ocorria. 

Infelizmente, a resposta completa faz parte de um dos mistérios do game. Porém, posso afirmar que isso ocorre por conta de um amuleto feito de 5 moedas Feng Shui em sua cintura, com cada uma sinalizando uma década de sua vida. Sempre que Yin perde em combate, a moeda se desgasta e, ao ultrapassar uma década, ela se destrói. Logo, a morte só ocorre de fato quando o amuleto está vazio. 

As moedas Feng Shui com árvore de golpes.

Agora, o que torna as coisas bem mais complicadas, é que as contagens de morte são cumulativas. Por exemplo, Yin começa com vinte anos, morre e levanta com vinte e um anos e uma morte. Caso ele perca de novo, essa contagem de quedas vai para dois e, em vez de levantar com vinte dois anos na próxima queda, ele irá voltar com vinte e três. Mas, se o inimigo que o matou ou um adversário especial são finalizados, a contagem diminui. Ou seja, vacilar muito pode fazer com que Yin seja um velho rabugento bem rapidamente. Mas calma aí, porque tem mais consequências da idade!

A cada década ultrapassada, a vida de Yin diminui e seu dano aumenta, portanto, aos setenta anos, dois tapas no “véio” e ele morre. Além disso, pessoas em idades avançadas não podem aprender todo tipo de golpe, logo, novos ataques possuem limites de idade para serem aprendidos. Além deles, há estátuas espalhadas pelos cenários que ampliam o físico de Yin, mas que, novamente, exige idade para tal. Ruim, né? Mas piora! Até porque é impossível enganar a morte para sempre.

Vamos supor – de forma hipotética claro – que você é muito ruim e terminou a primeira fase com quarenta anos, o que já é uma idade avançada para um lutador. Aqui você tem duas opções: morrer no segundo esconderijo ou refazer tudo com seu conhecimento atual. Digo isso, pois, em ambas as escolhas, todos os seus upgrades e golpes aprendidos são reiniciados, e apenas as descobertas do Quadro do Detetive se mantém

Avançar cada fase com o mínimo de idade e mortes possível é o ideal. No entanto, as coisas não ficam repetidas, pois, como foi dito, é possível explorar caminhos diferentes em fases anteriores. Reforçando ainda mais, isso dá um toque de Rogue-lite, já que você irá desbloquear habilidades físicas de sua preferência e manter o aprendizado para o futuro.

Pulando da 7º para a 10º arte

Sifu não só se inspira em jogos, como também em filmes. Pegue qualquer um do Jackie Chan ou de Donnie Yen, e você verá golpes e artimanhas semelhantes. Mas, sem dúvida alguma, Sifu se inspira no filme japonês Oldboy. Isso não é só perceptível pela narrativa, que também se trata de vingança, mas também em suas cenas e enquadramentos de câmera, como a cena lendária do corredor.

Aproveitando a deixa sobre posição de câmera, esse foi o maior pecado que Sifu demonstrou em toda jogatina. Durante os combates, a câmera se afasta, permitindo uma visão ampla do ambiente. Contudo, em áreas apertadas ou quando ficamos muito próximos da parede, a visão endoida de forma surreal. Isso ocorreu em casos isolados, mas ainda sim, esse inconveniente me tirou do sério por me fazer morrer à toa. 

Corroborando ainda com a ideia cinematográfica, Sifu detém cenários muito bem desenvolvidos e bonitos. Por mais que a arte não seja realista, a experiência é um deleite para os olhos certos. Isso sem contar as batalhas dos chefes, que impressionam qualquer um. 

Já é óbvio que Sifu utiliza de misticismo, porém, os ambientes em que enfrentamos estes lutadores se inspiram nos elementos base como água, fogo, planta, e assim vai. Nestes momentos, você aprende que o adversário não dará tempo para admirar o ambiente, infelizmente. De qualquer maneira, são lutas espetaculares e impressionantes, que expressam as personalidades desses inimigos.

Um combate épico em um dojo em chamas.

Por fim, o meu elemento favorito de Sifu: a musicalidade. Yin passará por 5 esconderijos distintos, e cada um deles tem a missão de anunciar a personalidade do vilão e sua história. Desta forma, a música é o que impulsiona essa descoberta para o jogador. Um exemplo: no segundo esconderijo enfrentamos um cara esquentado e durão, nesse caso, batidas eletrônicas pesadas dão as caras – ou ouvidos. Em contrapartida, na terceira vamos a um museu para enfrentar uma artista, e aqui a música clássica é o que consome o ambiente. 

Difícil de aprender e masterizar

Sifu deu uma bela polêmica pela sua extrema dificuldade, e concordo plenamente com isso. Aqueles que passam da primeira fase podem achar tudo muito tranquilo, mas o salto de dificuldade é gigantesco quando citamos as fases seguintes. Por sorte, a Sloclap já contava com isso e pretende trazer um modo mais fácil, assim como um hardcore – Deus que nos acuda. 

Para aqueles amantes de artes marciais e de desafio, Sifu é uma obra que deve ser adquirida, mesmo com o preço salgado da PS Store. A experiência é bela e recompensadora quando se aprende o Kung Fu do game. Para os que estavam na dúvida se esse jogo realmente é uma boa pedida, depende muito da sua paciência para aprender. Caso tenha se estressado com Dark Souls e Sekiro, você sairá dessa experiência bem mais velho do que Yin e, provavelmente, com uma úlcera. 

Cópia de PS4 cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Sifu

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • Direção de arte espetacular e envolvente
  • Golpes e finalizações cinematográficos
  • Enredo simples, mas ramificado e denso
  • Combate desafiador e preciso
  • Musicalidade expressiva

Contras

  • Câmera pode dificultar as coisas
  • Precisa de um bom tempo para aprender o combate