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Review The King of Fighters XV (Xbox Series S) – A “entidade” KoF voltou

A década de 90 foi um período que podemos chamar de a “era de ouro” dos jogos de luta. Após a Capcom definir as bases de como um título do gênero deveria ser, tivemos um punhado de bons jogos que marcaram época. Dentre estes, alguns continuam mostrando relevância até os dias de hoje. O designer japonês Takashi Nishiyama tem papel importante na construção desse cenário. Na Capcom, por exemplo, ele foi o responsável por criar Street Fighter. Já na SNK, criou a franquia Fatal Fury. 

A SNK – Shin Nihon Kikaku (Projeto Novo Japão) – fundada em 1978, atuou ativamente nas máquinas de Arcades, nos anos 80, 90 e 2000, com sua placa Neo Geo MVS. Apesar de possuir títulos de gêneros variados, o carro forte da empresa sempre foram os jogos de luta. Mesmo com o hiato do início do milênio, provocado por sua falência, você certamente conhece alguns ícones do gênero, como Art of Fighters, Samurai Shodown e o já citado Fatal Fury. Mas, nada se compara ao maior jogo da empresa: The King of Fighters (KoF).

Desenvolvimento: SNK CORPORATION

Distribuição: Koch Media GmbH

Jogadores: 1-2 (local e online)

Gênero: Luta

Classificação: 12 anos

Português: Interface e legendas

Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox Series S/X

Duração: 1.5 horas (campanha)

A “entidade” KoF

KoF está de volta.

O título, lançado inicialmente em 1994, era o resultado de um crossover de algumas franquias da SNK e apresentava um sistema de batalhas em trio ainda incomum na época. O jogo tem o dedo do gênio Takashi Nishiyama, que atuou como produtor do título e de algumas continuações. No Brasil, em especial, a franquia se transformou numa espécie de patrimônio nacional dos amantes de “fliperamas”. As máquinas de Arcades, em pleno anos 90, continham cópias localizadas para o nosso idioma, além de trazer personagens e cenários brasileiros, o que popularizou ainda mais a “entidade” KoF em nosso país.

The King of Fighters, após seu estrondoso sucesso, passou a contar com novos episódios, ano após ano, sem necessariamente saturar a franquia. Em 2010, no entanto, o design em sprites foi abandonado. Agora, em KoF XIII, tínhamos a construção de cenários e personagens desenhados a mão. Isso aumentou em demasia o custo de produção e, para piorar, o título não conseguiu repetir o mesmo sucesso que os primeiros conquistaram. 

Das polêmicas ao KoF XV

Bora pro torneio.

Em 2016, agora sob o comando do veterano Yasuyuki Oda, KoF abraçou uma identidade visual parecida com a vista em Street Fighter 4 (jogo em que Oda atuou como um designer): personagens e cenários 3D, com uma movimentação 2D. Porém, o visual gerou bastante polêmica, por apresentar algo de certa forma datado – principalmente se comparado a Street Fighter V e Mortal Kombat X. A confusão foi tamanha que a SNK se viu obrigada a lançar um patch com correções no ano seguinte.

Finalmente chegamos em The King of Fighters XV. Deixando para trás a exclusividade do console da Sony, vista no jogo anterior, o novo título – lançado no último dia 14 de fevereiro – poderá ser apreciado por todos, seja você dono de um PC, PlayStation ou Xbox. Porém, é importante frisar que o novo capítulo, no Xbox, só dá as caras nos consoles de nova geração. Então, nada de versões para Xbox One, infelizmente. Novamente sob o comando de Yasuyuki Oda, KoF XV, para o bem ou para o mal, se pauta pela continuidade, seja no visual, história, modos de jogos e gameplay

Modos de jogo

Variedade de personagens.

Em, KoF XV temos a continuação do arco de história iniciado no título anterior, focado em Shun’Ei e a entidade maligna Verse. Os acontecimentos do último jogo possibilitaram que rostos conhecidos pudessem retornar (caso do saudoso time Orochi e Ash Crimson). Apesar de ainda permanecer, não é Antonov que organiza o torneio, mas sim a estreante Dolores, que investiga, junto com Heidern, os episódios do último torneio. Temos ainda a adição de uma nova personagem – Isla – que divide o protagonismo junto a Shun’Ei.

Uma coisa que sempre foi bem clara, é de que toda a magia do KoF – salvo sua lore – se encontra nas disputas contra outros jogadores. E tudo está lá! Inicialmente, temos à nossa disposição 39 lutadores (e lutadoras), novos e veteranos, distribuídos em 13 times bem balanceados. No mês que vem o título terá a adição de outros lutadores, como Rock Howard (da série Garou: Mark of the Wolves) e Billy Kane (de Fatal Fury).

Modos de jogo.

The King of Fighters XV conta com um modo Versus, História, Treino e Online. Neste último, podemos montar ou entrar em salas já abertas e jogar partidas casuais ou ranqueadas. No entanto, no início, não pude aproveitar a modalidade da forma como queria: à medida que tentava entrar numa sala ou buscar uma partida casual/ranqueada, era reportado um erro ao inicializar o serviço de jogo. No fim, descobri se tratar de um bug. O problema foi resolvido mudando o idioma do jogo do português para o inglês. As partidas online estão incríveis. Particularmente, não senti nenhum lag nos testes que fiz. A impressão que tinha era de estar jogando com algum amigo no Versus local. 

Salvo isso, temos ainda a possibilidade de aprender algumas mecânicas básicas e combos nos modos Tutorial e Missão, respectivamente. E filmes e faixas (Galeria e DJ Station) que vamos desbloqueando conforme zeramos o modo História. Tais modalidades são mais do que suficientes para entreter o jogador por horas a fio. 

Feijão com arroz

História fraca.

A bela variedade de personagens é um ponto bastante positivo. Mas, temos a impressão de desperdício de elenco, pelo menos, se levarmos em consideração o anacrônico modo História. Digo isso porque parece algo fora de época. Preso ainda nas definições noventistas de como um enredo de jogo de luta deve ser. A equipe de desenvolvedores focou em fazer um “feijão com arroz”. Ele funciona, é bom, alimenta e sacia a vontade dos fãs de consumirem o KoF. Porém, poderia ser muito mais! 

Não digo nem de haver uma História cinematográfica nos moldes dos jogos da NetherRealm, mas o enredo é fragmentado, confuso e os finais não passam de meras imagens estáticas. Faltou mais apreço. Apreço esse que evitaria, por exemplo, de encararmos a situação de enfrentarmos – durante a História – um time exatamente igual ao nosso. Para montar o quebra-cabeça que é a história do jogo, devemos zerar o game com todos os times e mesclar um ou outro personagem em certas equipes. Porém, nem todos os times possuem a devida relevância dentro do enredo, fazendo com que a apresentação da história seja genérica e exatamente igual para alguns.

Escolha a sua maneira de jogar

Gameplay agradável à todos.

Se tratando de gameplay, os fãs não terão do que reclamar. Todas as mecânicas que consagraram a série estão de volta. As batalhas são rápidas (sem queda de framerate), o esquema em trios foi mantido, os comandos de ataque continuam os mesmos (soco fraco, soco forte, chute fraco, chute forte), temos os rolamentos, cancelamentos de defesa, arremessos e até mesmo a simplificação de combos visto no título anterior – o chamado Rush Combo. Esse último, apesar de toda crítica, denota certo esforço da SNK em democratizar um pouco mais a experiência para novos jogadores. 

Essa simplificação, no entanto, tem um custo. O percentual de energia que é retirado aplicando o Rush Combo é muito menor do que emendando um combo de forma tradicional. Nesse sentido, os jogadores mais puristas poderão abrir mão dessa facilidade e inventar potentes combos explorando as mecânicas de empurrões e cancelamentos de ataque, por exemplo. The King of Fighters XV até te ensina um leque bem robusto de combos com todos os personagens, no modo Missão. 

O título conta ainda com uma barra de especial que possibilita ampliar nosso poder de ataque (Max Mode) ou velocidade (Quick Mode) – para cancelar e emendar golpes formando poderosos combos. Usando ainda essa mesma barra podemos aumentar o poder de nossos golpes especiais e aplicar os chamados Superespeciais, com níveis diferentes de ataque. Dominar todas essas mecânicas requer treino e dedicação. Mas, ainda assim, há uma infinidade de possibilidades que nos permitem curtir e jogar o título, seja com uma pegada mais casual ou mais técnica. Aí vai de cada um! 

Visual pixel-art 2D, nunca mais

Visual ainda divisivo.

KoF XV veio para reafirmar que o belo visual em pixel-art dos jogos antigos, definitivamente, ficou para trás. Apesar de apresentar gráficos melhores, em comparação ao último título, a maior parte dos modelos de personagens do KoF XV foram reaproveitados do seu antecessor. Nesse sentido, o visual continua um tanto quanto divisivo, principalmente se compararmos os lutadores do jogo anterior com os novos. Pelo menos não temos mais a impressão de estarmos controlando “bonecos animados”. De toda forma, mesmo tendo uma identidade visual bem diferente e cartunizada, The King of Fighters XV ainda está bem atrás de outros jogos de luta – como Mortal Kombat 11 – no que se refere a qualidade gráfica.

KoF XV possui dezesseis cenários/arenas diferentes (contando com o estágio de treino), cada qual com sua própria identidade – associada aos times – e bem diferente uma das outras. Os cenários não chegam a impressionar (alguns elementos estão em baixa resolução), mas cumprem bem o seu papel. Em especial, The Sahara foi a que mais gostei, por brincar com a própria história dos jogos da SNK, ao trazer uma ambientação que homenageia Metal Slug. As melodias e os efeitos sonoros são os pontos fortes do jogo. Nesse quesito, tudo que fez The King of Fighters ser o que é, foi respeitado, desde os voice action, a sonoplastia e composições.  

Se apoiando no carisma dos jogos passados

Jogar The King of Fighters XV bate um pouco a sensação de incompletude. Ele é bom, mas poderia ser ótimo. Sinto falta de pequenos detalhes que dariam um brilho ainda maior a ele. Um exemplo disso é a ausência das tradicionais provocações entre personagens rivais antes das lutas começarem. É algo que só está presente no esquecível modo história, mas inexiste no Versus ou Online. 

Em linhas gerais, KoF XV, apesar de ainda se mostrar um game de luta gostoso de se jogar – principalmente no modo Versus local -, não traz inovações, mantém-se inerte diante do arco de história iniciado no título anterior (seja em relação ao desfecho ou na forma como a mesma é contada) e, por hora, seu apelo se liga ao carisma conquistado por seus antecessores. De toda forma, a equipe de Yasuyuki Oda joga no seguro e entrega um bom jogo que tem tudo para aquecer o cenário competitivo e os corações dos fãs da série.

Cópia de Xbox Series X/S cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

The King of Fighters XV

8.5

Nota Final

8.5/10

Prós

  • Variedade de personagens
  • Online incrível
  • Mecânicas agradáveis à todos
  • Melodias e efeitos sonoros

Contras

  • Modo História sem inspiração
  • Visual ainda divisivo